Concebido na iniqüidade
Sou cria espúria da tirania
Irmanado na deslealdade
Adotado pela patifaria
Vomito qualquer virtude
Presto culto à sacanagem
Enlouqueço na boa atitude
Sou maluco por vadiagem
Rezo à santa ignorância
Deleita-me o ser insensato
Confio cego na desconfiança
Agradeço comovido ao ingrato
Elegantizo a vulgaridade
Disfarço-me na desfaçatez
Requintado na maldade
Em alta conta a sordidez
Meu idioma é o palavrão
Minha família, a máfia
Meu lema é a contradição
Minha atitude, a empáfia
Sou nobre alma pervertida
Augusta mente vagabunda
A vida em parte é perdida
Pureza tem sua lasca de imunda
Indignem-se os pseudo-santos
Urrem as carolas pentelhas
Acham-me em qualquer canto
Sou a ignóbil raposa-vermelha
Quem nunca se enxergou mau
Quem da candura não se retira
Quem jamais desceu um degrau
Vive e morre em porca mentira
Arriem-se todas as máscaras
Descerre-se a alva cortina
Coloque-se exposta a brava cara
Da meia-fera que nos domina
Gê Muniz
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