Pela manhã um aborto
E um café para despertar
Vou à labuta, absorto
Pela unidade do lar

Pela manhã um insulto
Solto à mesa do bar
Ecoa por viadutos
Faz meu ouvido rachar

Sapatos e pernas do povo
Pedem almoço e jantar
Homens na idade do lobo
Rezam p’ro sangue baixar

Pela manhã um cochicho
Aperta o nó do pescoço
Põe minha fala no lixo
Troca minh’alma por osso

Pela manhã uma saia
Rebola ao passear
Põe gente da minha laia
Em seu devido lugar

Línguas e dedos do povo
Lambem poeira e manjar
Homens com jeito de lobo
Rogam p’ro tempo parar

O sol me ergue sempre
Na mesma direção
Minha cabeça sopra
Um vento de ilusão

Pela manhã... o silêncio!
Sufoca os ruídos do céu
 
 
 
Gê Muniz

Gê Muniz
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