Escrevo pouco,
Rabisco muitíssimo
E bebo um vinho moderado
Palavras sem apego
Massacram em peso
Um caderno espiralado
Tinta azulada às toneladas
De sessões de descarrego...
Algumas frases duras
Desmancham ao papel
Formando desunidas
Um texto-prédio,
Tipo “Torre de Babel”
Em seguida, lendo-as
Soam-me sérias
E por este motivo
Bobas, pretensiosas, tolas
Passo a negá-las, todas!
Esfrego cada letra
De lavra própria
Nessa cara deslavada
E ainda choro por elas
Abomino aquela bazófia...
Lamento cada palavra-verso,
Julgo-as perdidas,
Ah... “Malfadados signos
Tortos de rima”
Depois de um tempo
Neste clima de cemitério
O sangue esfria...
Levanto bufando,
Vou ao banheiro,
Acotovelo em sossego
O corrimão da sacada,
Enxugo a louça da pia
Coço o aveludado braço
Do sofá da sala
E me esqueço...
Na volta, raivoso
De novo, tudo leio
E então, por Deus!
Nem me levo mais a sério!
É pior:
Creio em tudo, tudo
Postado no papel!
Gê Muniz
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