Somente uma caneta?

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como ousas, traçante criatura,
Em insólita aventura,
Dar-me tamanha desilusão.
Quando, para lá dos grilhões da tua servidão,
Desafiando a mão que te segura,
Traz à luz palavras tão sentidas.
E da destra que te conduz, rouba-lhe o cacoente da criação.
Perplexidade, ou será, então, mera imaginação ?
Ao colher da rebeldia a emoção mais pura,
Ferindo com tua sina meus sentidos,
Leva-me, nesta escrivaninha, à beira da loucura.
E ao reconhecimento da tua desmedida bravura,
Homem somente que sou,
Dobro-me incapaz de reprimi-la,
Relaxando a mão que te firma,
Observo teu jeitoso bailar traçando letra,
Tecendo outra, e mais outra linha, feito trilha.
Utopia viva de um dementado escriba
E sua inspirada caneta.
 

porto alegre

luis roberto piereti moreno
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