O Ciclo do Lugar Nenhum

Descalços no chão, sangravam seus pés.
Um terço, alguns restos de pão e duas moedas em uma, a enxada se ocupava de sua outra mão.
Na terra cheia de cor, fixava os olhos secos de lágrimas.
E os olhos cheios de dor, fixos na terra seca de água.
Diziam-lhe as vozes: -anda depressa e não pára pra olhar.
Nem as flores, nem as nuvens, nem lua se quiseres chegar.
Não sabia aonde ia, nem mesmo porque corria, mas uma coisa era certa: caminhar, caminhar, caminhar.
Duas listras vermelhas seguia, haveria de dar em algum lugar.
Pois, sonhos, não mais os tinha, a realidade que lhe deram, era bem mais fácil de carregar.
No peito, marcas da vida, a face pálida perdia-se na densa poeira do ar.
Porém nela, um sorriso nascia, ao ver nas linhas o final que há muito tentava alcançar.
Parou e voltou-se pra trás, quando a surpresa, o pulsar lhe cortou.
No caminho que ele trilhara, outro rastro de sangue ficou.
E ao longe, mais um homem, com os olhos no chão, rumando ao mesmo lugar

Luis Eduardo Guerra (bailinho)

Me baseei em outro poema (cujo autor nao conheco) para escrever esse "conto".
Uso esse homem para representar a humanidade que sempre vive seguindo ou buscando algo acreditando que ira chegar em algum lugar.
Nesse caso, ele segue duas linhas achando que o levará a esse "lugar" e, de tanto andar ele morre, mas antes ele vira pra trás(como todos fazem antes de morrer) e vê que outro homem seguindo o rastro do sangue que ele havia derramado. É quando ele entende que todo esse tempo, ele seguiu apenas o rastro do sangue de outro homem, que como ele tambem seguiu outro.
Mostro isso também na estética, quando a maioria das linhas terminam em "AR" e as duas últimas quebram isso, terminando com "OU", mas a última linha volta a acabar com "AR" dando a idéia do ciclo.
A idéia dela é bem mais bela que sua aparencia.

PS: as moedas, o pão, o enxada e o terço reresentam as "riquezas" do homem (o dinheiro, o alimento, o trabalho e a religião), o que os mantém vivos.
screampoetry
© Todos os direitos reservados