A noite é bela
      A chuva serena
      Caindo suave
      Desperta a saudade
      Dos dias tranqüilos
      Em minha cidade
 
      Pequena, singela
      Cidade menina
      Na terra escondida
      E em sono profundo
      Lá no fim do mundo
      À beira do rio
      De águas tão límpidas
     
      Rio São Domingos
      Que desce da serra
      Desliza tranqüilo
      Em longo caminho
      E com todo estilo
      Envolve a cidade
  
      Tão meiga criança
      De eterno sorriso
      Que quer despertar
      E eu, o guerreiro
      Sobre meu cavalo
      Armadura brilhante
      Lança afiada
      De olhos atentos
      A te proteger
 
      Cavalo de pau
      Tão forte e garboso
      De pelos sedosos
      Belo e altaneiro
      Em cima do morro
      Morro do Moleque
      De olhos atentos
      A te observar
 
      E sonho acordado,
      Lembro-me criança,
      Do gosto da puxa,
      Rapadura com queijo
      Pitomba, araçá
 
      Num passe de mágica
      Ouço a melodia
      Tranqüila, suave
      A me embalar
 
      Fecho os olhos e
      Atento à cantiga
      E com belo sorriso
      Fico a recordar:
 "Camaleão, óia o rabo dele,
  assustenta esse nego, senão ele cai.
  O cachimbo é de ouro é de sambambai"

José Valente Chaves
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