De noite na cama fico pensando
Se tu me amas e quando
Se tu me amas eu fico pensando

De dia eu faço graça
Pra não dar bandeira
Sei lá, tu não vês.

De dia tudo passa
Como brincadeira
Mas de ti estando longe

Olhas nem sei pra onde
Pára e te demoras.
Por hora não vou ter

Coragem de te dizer
Um dia eu vou estar à toa
E vais estar na mira

Não sei se sabes
Que eu sei o quanto
É difícil dizer
Que te amo tanto.

Enquanto isso o mundo gira
Em mim um interminável fenecer
Cá dentro, indecisão pra valer:
Virás um dia me entreter?

Todavia, meu coração, este músculo involuntário
Que por ti pulsa e extrapola
Feito a chuva que lava
A terra e leva e molha
A multidão que me olha..

Contudo, nem o vento
Que desordenado sopra
De meu espírito tira
Os pensamentos afoitos
Na cama de noite
Se, à escala
que te amo tu me amas
no frio das ardósias da sala.

Não obstante, transpareces
E me esqueces
Que até parece que é o amor
Uma outra espécie.

Pois pressinto que não pretendes dar na cara.
Invólucro nesta teia que a vida tece
Meu mundo inaflorido empobrece.

A valsa vienense emudece
Todo o universo, ao meu sonho, zombaria ou prece
Diverte-se e se cala.

Sem ti tudo fica sem graça
Branco o dia e a noite feito fumaça
Densa acinzentando esta doença passional.

Meu amor por ti não passa,
não dorme, não morre;
só respira e tosse, mal-mal.


27/06/1991

Curitiba