Hoje meus olhos não se importarão
Em ler jornais ou filosofias
Meu coração nem quer mais doer
Perante injustiças, perante ironias
E a razão, cansada de mim,
Abandonou-me sem despedida
Que me importa saber funcionar
Sem viver em função dessa vida?
Nada. Nada importa mais
As palavras morrerão aqui.
A vaidade está sobre todos
A própria rima é vaidade em si
Vai, vazia a voz que nada diz
Nas aliterações combinadas
Propositais. Só pra agradar. Pragas
Nadas. Tudo em vão. Enlouqueci
Não goste, não leia, não diga nada
Pois nada digo. Nem estou aqui
Hoje meus olhos não se importarão
Eles só querem [valer a pena]
Neste clichê, mas num certo quê
Que nem eu sei e por isso mesmo.
Eu quero o que eu não sei.
Hoje não me importarei
Em saber demais, em ler os jornais
Hoje não quero mais
Nada
Além de entender isso aqui
                               [Que chamei de vida.