CONFISSÃO DO MORTO

Nesta minúscula casa que habito

Estenderam-me extremamente extremo

E aos poucos vou apodrecendo


Escreveram-me o nome numas tábuas

Em pequenissimas letras de tinta a óleo

Somente visitantes frequentes me têm nas memórias


Há muito que não vejo o outro lado

Por vezes nem o meu proprio cheiro sinto

E o pano a que me envolve já lhe falta cor


Soltaram-me palavras do Alcorão

E simplesmente tranquei-me num profundo silêncio

Aguardando a tão esperada ressureição


Sinto uma imensa saudade dos viventes

Somente no instante de chuva e tempestade

A terra que me dorme tambem me adormece