MÍNIMA ODE AO AMOR

Voa, alma minha, canta à carne que te ouve
meus sacrifícios, meus sonos perdidos,
meu canto entre lágrimas,
meu amor à humanidade que não me ouve e nem me ouvirá,
diga que não estou morto e nem arrependido,
que sou apenas aquele que nasceu sem saber ao certo o endereço,
que caiu cedo do berço e foi dado à rua,
viu as pernas da lua e se apaixonou por ela,
diga, alma minha, que o pouco juízo foi-se nos embates,
sangrei por dias num duelo por uma bela mulher,
parado na porta de uma fábrica fui confundido com um trabalhador,
diga, a tantos que me ouvem, que nasci num mundo em transição,
a máquina do mundo ainda oferecia sangue às suas entranhas,
risquei nas paredes dos depósitos de pessoas poemas violentos,
saltei de parapeitos e caí nos braços do silêncio,
fui aonde poucos hão de querer estar,
aos pés dos deuses fiz preces que foram esquecidas,
rezei sem saber ao certo como não ofender o Deus dos homens,
dormi no celeiro ao lado de animais que uivavam e riam,
ainda assim não perdi a fé, não perdi a vontade de seguir,
vi mortos serem enterrados por cansados homens,
fechei os olhos de alguns, abri os de outros,
venci a primeira batalha e segui adiante,
minhas mãos calejadas escreveram canções 
de fúria e desassossego, dormi sobre o branco papel,
morri tantas vezes que nem sei a qual alma peço agora
um pouco de piedade enquanto escorro doçura sobre essas letras,
enquanto sinto meu coração tão quente
que poderia aquecer a tristeza que ronda o mundo,
essa letargia que hipnotiza os selvagens
corações que insistem em amar... 

Prieto Moreno
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