Sem querer ficaram restos de lembranças
e até onde o tempo alcança
e a mente consegue chegar
não há o que desfaça...
Querem se fazer lembrar.
São lembranças que não quero ter,
não quero guardar, fazem doer.
Sonhos que não quero sonhar. Já sonhei.
Quero acordar.
Vestes que não quero usar. Mudei.
Lembranças dispersas, perversas,
universos que não são meus,
rancores, retrancas, sentimentos ateus,
fuligens que se espalham a favor do vento
e se escondem por detrás do tempo,
sombras de uma vida que me despedi,
emoções que já não quero mais sentir.
Lembranças mortas, pouco me importa
se querem me levar ao juízo final,
se ainda tentam me fazer algum mal.
Refaço, pouco a pouco, meu jardim,
reconstruo a crença que sigo,
recomeço pelo fim.
Planto amores, luzes, canteiros de flores,
mudo a paisagem, acendo refletores.
De bem com a vida recolho fragilidades
das vindas e partidas, lágrimas de orvalho,
pétalas macias a esperar o novo
e clarear o meu caminho, de novo.
Lembranças que se farão amanhã
mais fortes que os restos mortais do ontem,
palavras nascidas da luz da manhã
costuradas num novo horizonte
escreverão minha nova estrada
da alegria da alma restaurada,
alma leve de profundidade,
lembranças que se chamarão "Saudade".
(Carmen Lúcia)
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