Instabilidade da alma

Instabilidade da alma

 Quero rir uma risada boba
nascida à toa em qualquer lugar,
trazendo à tona todo sentimento
para explodir e extravasar no ar,
até tornar-se gargalhada
franca e escancarada
pra contagiar.

 
Quero abraçar motivos,
fúteis e expressivos
para me encantar...
Todo detalhe que me baste e afaste
do desencanto de não mais sonhar...
Se porventura dormir a magia
ou a tristeza quiser acordar
de um baluarte vem a alegria,
o meu consolo se eu quiser chorar.
 
Quero reviver prazeres
colhidos, contidos nos alvoreceres,
vividos e guardados em minha lembrança,
lugar onde o tempo jamais alcança
ou não tenha tempo para alcançar.
Quero recolher palavras
pra preencher a minha fantasia
e cirandar durante noite e dia
sentindo pingos de pétalas macias
chovendo em mim, versejando rimas,
num festival de cores que a vida anima.
 
Quero da madrugada, a oração,
a serenata pura, sem estrelas ou luas,
pra que eternize extrema emoção,
a comoção do orvalho entre lágrimas,
a melodia vinda do coração,
momento silente, do âmago ardente,
e do poeta que "finge a dor que sente",
mas que consente quando tudo silencia
e chora a alma na mais bela poesia.
 
_Carmen Lúcia_
 
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente." (Fernando Pessoa)