O cão, o velho e o menino
Eram três abandonados
Vivendo desamparados
Pelas ruas da cidade
Um velho, um menor de idade
E um cão; escorraçado
Nenhum dos três em seu fado
Foi abençoado, da sorte
Vez que jogados sem norte
Quis o destino, que um dia
Unissem sua estadia.
Se a semelhança tem vez
O mesmo sonho é dos três
Terem um pedaço de pão
Sempre a cada refeição,
E em cada dia que passa
Nessa tamanha desgraça
O velho, um pobre ancião
Já foi alguém, hoje não
A família o abandonou
Quando o dinheiro acabou
O menino igualmente
Mesmo sendo inteligente
Sofreu a mesma maldade
Foi jogado sem piedade
Na rua da desventura
De sofrimento e agrura
Sem ao menos aprender
Na escola a saber ler
O velho por sua vez
Ensina-lhe português
Dá-lhe lições de moral
Para nunca fazer o mal
O cão, sem ser criatura
Sofreu da mesma agrura
Além de enxotado pra rua
Ainda lhe sentaram a pua
Unidos em comunhão
Da imposta *abjunção
Ao velho pela despesa
Ao jovem pela natureza
De gastar sem produzir.
Ao cão o mesmo carpir
Que o destino lhe impôs,
Diz o velho, tal qual nós
O menino foi crescendo
Nas lições foi aprendendo
A ser alguém nesta vida
A orientação foi seguida
O velho levou-o à escola
Sem uniforme ou sacola
Apenas um pedaço de pão
Para aprender a lição
Por ser aluno aplicado
Ao diretor foi chamado
Inteirou-se da situação
Mandou servir refeição
A ele, ao velho e ao cão
E pela sua educação
De ser aluno exemplar
Passou a escola abrigar
Estes três desamparados
Pelo destino agrupados
O menino estudioso
Na orientação do idoso
Foi galgando posição
Sempre a melhor lição
Era a sua com certeza
E não vos cause estranheza
Que um dia será doutor
Diplomado com louvor
Graças à boa conduta
Que o ancião não reluta
Nas lições que sempre dá
E sem ele, ao deus-dará
Que seria deste menino
Sem família e sem destino !
• Separação
Porangaba, 08-02-2015 (data da criação)
Armando A. C. Garcia
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