As pessoas se espantam
Porque troco o dia pela noite;
É elas não sabem a magia do pernoite!
Mas por que vivo a varar?
Ah! São tantas coisas que me encantam,
Que vou agora lhes contar:
Admiro as estrelas
Que no céu vem acampar;
Infinitas, reluzentes,
Um quadro vivo a brilhar.
Aprecio a leve energia
Que põem minh’alma a levitar;
Meu corpo, pelo a pelo
Vem todo arrepiar.
Escuto a calmaria
E o silencio em seu soar,
Na densa escuridão em companhia
Do luar.
Uso a solitude
Para a mim mesmo encontrar;
Simples e fiel,
Meu melhor amigo eu me tornar.
Falo comigo mesmo
E tenho um Deus a confessar
Minhas angústias e tristezas
Em seu ombro a chorar.
Sinto minha alma-ma
Batalha se tornar;
Coração e mente
Fortemente a batalhar.
Coração é belo e puro,
Só querendo aconselhar;
Mente-ego, obscuro,
Só querendo perturbar.
E ficam lá,
No interior a duelar;
Ai meu Deus!
Quem vai perder, quem vai ganhar?
"Aquele que ficar mais forte
E vier me governar,
É aquele que
Eu alimentar.”
Sento em lótus
E começo a meditar;
Invoco-oco Meu Amor
Para o ego silenciar.
E o Coração vem como uma banda
Com instrumentos a tocar;
Fazemos som a noite inteira,
A noite inteira a festejar.
Armas musicais a atacar!
Tarrrratatatatum! Tum-tum-tum!
A voz do coração
Despertou para urrar!
Destruimos a calmaria
E o silencio em seu soar;
Ego, o falso eu,
Vem estrondosamente estraçalhar.
Pousam passarinhos
Em minha janela a piar:
Piu-piu-piu, piu-piu
Piu piu, piu, piar!
Ele disse: ‘’Agora sim!
O Eu Sou vai despertar!”
Vamos, vamos, vamos!
Cantar ao seu chegar!
Assisto ao fim da madrugada,
E a alvorada em Seu raiar:
As trevas antes escuras
Vêm logo a clarear.
Ele levanta de repente,
No centro, a brilhar,
E vai andando sutilmente,
Para tudo ser-estar.
Nova Era em cores vivas
Vêm seus raios pincelar;
Emoções belas, sensitivas,
Vêm minh’alma iluminar.
O sentido da vida
É apenas amar,
Igual o Eu Sou,
Eu Soa, por soar…
Sinto o ágape
Em meu peito acordar;
Amor, entusiasmo,
Que vem me devorar.
Eu não existo;
Vejo meu corpo desintegrar.
Eu Sou está completo:
Minha jornada de vampiro já vai terminar.
Dou-lhe ‘’bom dia, bom noite’’
E me retiro,
Para a noite,
Minha rotina retomar.
E então, como a noite não varar?
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