Madrugada serena

Este é meu ambiente
Ruas e estradas desertas
Passei interminavelmente
 
O canto urbano dos pardais
Dos pombos saltitantes
Milhares de pés nos pedais
Pouquíssimos amantes
 
Enquanto eu prosseguia,
Dobrava, seguia e desviava
As vezes até perseguia
Mas isto pouco durava
 
A liberdade que tanto contive
Explano abertamente sem pudor
Quando um pedestre eu detive
O desgraçado me falou
 
“ que tens contra este pobre?
Tu és belo, forte, homem nobre
Não te enfadas de me importunar?
Se quer horas, trate de outro perturbar.
 
Ora mas que desconexo
D’onde veio essa revolta?
Deixei o campo aberto
E o pedestre foi-se  embora
 
Eu também me fui
Desta vez para o campo
Onde do sabiá era o canto
E a água da nascente flui
 
Límpida e arenosa
Um encanto , maestria
Ora vejo donzela formosa
Como só a natureza faria
 
Encontra-se  a se banhar
No reluzente pôr do sol
E minha mente a perder-se
Como um peixe no anzol
 
Seduzido me aproximei
Logo ,cobriu as vergonhas
Ri por dentro e perguntei
Como te chamas?
 
 
 
E ainda espantada revelou
“ Beatriz, não se lembra?
Aquela com quem se casou
E deixou, somente os poemas
 
Éramos um, apenas
E em tardes como essa
Ou noites serenas
Beijávamo-nos sem pressa
 
Teu encanto não me é surpresa
Este leito aqui guardei
Mesmo sem nenhuma certeza
Sozinha  eu te aguardei
 
E aqui está minha fraqueza
Não mais a mim entrará
Jamais esta alma tocará
Pois já é tarde e sou pura pureza.
 
Tão cristalina e vazia
Que me atravessará
E poesia também se fará
Do que antes era magia”
 
 
 
E sem dizer palavra
Sem tocar um acorde
Nem perder a calma
Desaparecera ao longe
 
Faltoso de coragem
Coberto de vergonha
Prossegui à margem
Deste rio que sonha
E reflete a minha imagem
 
Pobre Beatriz
Pobres probos
Pobres vontades
Nobres intenções
Nenhuma verdade
 
Então chega o fim
E cá terminei
Junto com esses versos
Soltos, me casei.

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