Eu queria ser livre do seu nome
Dominar minha face desequilibrada, minhas feições trêmulas
Queria que ninguém notasse minha perturbação
Quando, testado pela obra do esquecimento
Surgem sucessivas as letras de seu nome
Queria ouvir mal para nesse instante
Não precisar ligar sílabas e formar palavras
Interpretar fonemas e abstrair idéias
Queria não ouvir seu nome
Não formar seu rosto
Delinear seu corpo e vesti-la quase incandescentemente
Mas se for irresistível isso
Queria pelo menos não ligar pessoa a sentimento
Que você fosse uma mera tela de arte cubista
Queria que o nosso passado não fosse seu
E no instante que ouvisse seu nome passasse pela cabeça
Uma historinha sem sentido de um par sem ímpar
Queria fingir não conhecer as pessoas
Que com certeza lembrarão de falar o seu nome
Antes de lembrar do meu
Queria que o seu nome fosse banalizado como uma cartilha sindical
Que o cartório registrasse milhões dele todos os dias
E na dúvida de a quem atribuí-lo não ver-lhe apontando entre todos
Queria ser livre para dizer seu nome
E não apenas permitido a expressá-lo
Em momentos de súbita dor
Não queria que seu nome representasse palavras complicadas de explicar
Palavras que se presumem ditas nos momentos de silêncio, como as que um dia vivemos
Queria apenas um dia ler o seu nome cristalizado e inofensivo em uma poesia...
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