Pobre é o humano
Que tem tudo mas não tem ninguém
O amor do mundo não lhe vale um vintém
O calor de um abraço não acalma a tempestade interior
Chama vencida pelo calor do frio de sua alma
Exposta ao vento
Com a pele molhada, gripada
Extremidade cianótica que vem
No peito do pobre homem que não tem
Nada mais do que tudo no mundo
Mas nada menos que nada no coração
É tão demente o seu medo
De perder tudo o que já conquistou
Com o suor do corpo ao preço de lágrimas da alma
A troco do amor, sem ninguém
É tão comovente seu olhar lançado ao desdém
A sua cara pálida revestida de desprezo
De quem procura no íntimo do vazio alguém
Que lhe apague as incertezas dos riscos possíveis
De ganhar um sorriso ao invés de uma cédula rica
Que aprimore seus cofres da ignorância
Ou se um pobre implorar-lhe sua compaixão, logo de quem
Tem medo sim de ser humilhado pelo gesto humilhante
De alguém muito mais digno, mesmo na condição degradante
Por isso mede o preço de cada gesto compassivo
Falsa estratégia de manter no mundo as aparências
Que no coração frio é movida uma fábrica de ilusões
Que no pensamento calado é estendido um sonho fútil de edificar
Um castelo maior que a costa de seu pesar
Sem ver que fortaleza alguma lhe protegerá
Da pobreza da alma que sempre o conduzirá
À busca incessante por tudo o que sobrar
Nesse mundo material, nessas posses supérfluas
Nessa necessidade de se encontrar
Escondido em si mesmo, chamando socorro
Porque ele é tão pobre que sente fome de amor
Seu peito vomita as tripas dessa dor
De ser marginalizado por si mesmo...