NA MANGEDOURA DE BELÉM
(F. A S S I S)
Enfim outro lugar não mais havia,
Senão a pobre e humilde mangedoura,
Onde o casal, solícito pousou...
Ouviu-se um eco de trombetas várias
E, pelas célidas plagas solitárias,
Grandiosa estrela, de súbito, brilhou!
Alguns zagais, na estrela o olhar fixando,
Deixam os seus rebanhos repousando
E vão depressa em busca de Belém...
E ali, no feno, em seu fulgor divino,
Vão encontrar, enfim, o pequenino,
A quem a virgem, com amor, sustém.
Quanta humildade existe nesse canto
E ao mesmo tempo que divino encanto
Se pode ver em torno de Jesus!
Ele os olhinhos volve para o teto
E sua vista insone e circunspecto
É para os pobres que derrama a luz.
É para os pobres que ele tem nascido,
Porquanto têm os ricos esquecido
E nem sequer o buscam em conhecer;
Toda a humildade que a Jesus circunda
Os corações dos míseros inunda
Com um clarão divino de poder!
E, enquanto têm os príncipes toucados
E vestem sedas, linhos e brocados,
Jesus apenas pobres palhas tem...
Onde, porém, existe mais poesia
Do que esse poema que enche de alegria
A mangedoura humilde de Belém?
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