LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA NA ROÇA

 

 
 
 
Toda a vez que eu me lembro, do meu tempo de criança
Passo horas pensando, e volto á minha infância,
A vida na roça, é tranqüila e com segurança,
Onde só existe fartura, tudo é em abundância.
A casinha de chão com o coberto de palha,
A chuva no telhado e o cheiro da terra molhada,
O vento assobiando na fresta e o lampião se apagava,
Ouvir o grilo gritando e os passarinhos na alvorada.
 
Beber água da fonte, tomar banho na cachoeira,
Passear com a canoa e tratar os porcos na mangueira,
Subir nas arvores tirar frutos, se balançar no cipó,
Caçar com meu bodoque e matar ratos no paiol.
Chupar o mel de lechiguana, ginete ar com os terneiros,
E descer com o meu carrinho ali na serra do potreiro,
Nas noites de lua cheia brincava lá no terreiro,
E vestia as roupas novas, cada festa do padroeiro.
 
Socar canjica no pilão, tirar lenha no mato,
E no dia da minha crisma o meu primeiro sapato
Pisar o barro da estrada , lavar os pés na gamela,
Correr da choca ao tratar os pintinhos com quirera.
Ganhar presente da madrinha, as vezes apanhar de vara,
Ouvir o galo cantando e a melodia das cigarras,
Ver o sol nascer no monte, o primeiro dia na escola,
Uma bolsinha de açúcar, sempre foi minha sacola.
 
Saudades dos piqueniques, as brigas que nós fazia,
Perdia o chinelo e pensava, que os colegas quem escondia.
Os brinquedos de madeira, que nós mesmos confeccionava,
A bola de pano velho, destripava novamente nós amarava.
O barulho do colchão de palha que a mamãe enchia,
O travesseiro de pena e os pelegos em que nos dormia.
O dia em que nos mudamos, pra casa nova bangalô,
A plantação de milho e arroz, arada com um boi só.
 
Lembro as noites de filó, todos vizinhos se juntava.
O baralho pra jogar e o brodo é que não faltava.
A cada aniversariante, bater surpresa pra comemorar
E os puxirões outro motivo pra vizinhança se encontrar.
Saudades do feijão de corda, debulhado de manguá
E o machado arrebitado já sem o fio para cortar
Passear com carro de boi, ferver o leite na caneca
Eu pescava de caniço e também jogava peteca.
 
A tabua do queijo do lado de fora, tudo vem na minha mente,
Lembranças de um passado que em mim ainda esta presente.
Lembro das manhãs geladas, o frio do inverno ardente,
Se aquecer comer pinhão, sentado no banco atrás da chapa quente.
No prego o chapéu de palha e as tranças que mamãe fazia,
Na bainha o facão três listras e os gatos na bica da pia.
Na varanda o rebolo de pedra, e as enxadas eram mo ladas,
A família inteira de joelho, todas as noites o terço rezava.
 
O ringir do engenho de madeira que as vacas puxavam,
Além dos bezerrinhos e o leite que elas davam.
Ali no fogo entre as pedra, cheio de garapa o taxo estava,
Pra fazer melado, rapadura e puxa-puxa pra piazada.
No balaio o cheiro do pão novo, no forno de barro era asado,
Anunciava o clima de festa, que mais um sábado tinha chegado.
O velho cachorro pitoco, pra pegar a galinha nós soltava,
A carne caipira em molho, só no domingo a mãe preparava.
 
Peço desculpas aos vizinhos, das artes que aprontava,
As melancias que na roça, sem pedir eu pegava.
Saudades do rio pesqueiro, onde nós sempre nadava,
E a mãe dentro do caíco, muitas roupas ela lavava.
Abelhas e borboletas nas flores do campo sentavam,
Das noites de natal que as vaga lumes me escoltavam.
Enfeitar presépio no natal, que demorava pra chegar,
Desejar feliz ano novo, pelos doces que iria ganhar.
 
O medo das noites escuras, de enchente lá na roça,
Na lagoa a sinfonia dos sapos, animava nossa palhoça.
No moro o grande pomar, de frutas diversificadas,
Na melhor estação do ano, a primavera perfumada.
O milho para o muinho, na mão nós debulhava,
Meu irmão com a moagem, no cavalo ele chegava.
A tabua grande da polenta, em que a mãe preparava,
E os 12 membros da família entorno dela se juntavam.
 
A primeira vez que eu fui, na cidade para passear,
Admirado que no ônibus, tinha escadas para pisar.
Ruas retas e quadradas, e as casas a se encostar,
Um prédio de dez andares eu parei para contar.
Lembrei do porão de casa, os salames pendurados,
Eu já estava com fome, e as bananas no sobrado.
O parreiral cheio de mato, nossa empreitada capinar,
Em cada ano a recompensa...uma gasosa para tomar.
 
Ouvir o sino na capela, todas seis horas badalar,
Em que mais um dia chegava, ou estava para findar.
Achar ovos nos ninhos, aí no meio do bananal,
Ou a traz do muro de pedra, lá pra cima do curral.
Quando garro a pensar, lagrimas dos meus olhos cai,
Saudades daqueles tempos, pois, sei que não voltam mais.
O que resta é viver o presente, que logo também se vai,
Projetar o futuro sem chorar, por aquilo que ficou pra traz.
 
Clairton Buffon,
Campos Novos, 08 de Janeiro de 2010
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