Lembranças Vividas, Lembranças Sonhadas, Lembranças Destruídas, Lembranças Lembradas.

 

 
Passado vinte e três anos, que saí deste lugar,
Pra lembrar da minha infância, lá voltei pra passear.
No caminho imaginando tudo igual ali encontrar,
Entrar na mata fechada, de bodoque pra caçar.
E no fundo do potreiro, todos os sábados ia pescar,
Entre pedras e barrancos, nas tocas com a mão a pegar,
Tinha peixe em abundancia, era só no rio buscar,
Os animais selvagens e pássaros, na algazarra a cantar.
 
De volta pra minha terra, ao longo daquele caminho,
Só enxergava taperas, no lugar que tinha os vizinhos,
O pomar que o pai plantou, as parreiras que davam vinho,
Cortaram todos os pinheiros que davam presépio e pinho.
Tiraram o paiol e o curral, nem se quer avistei o terreiro,
Varanda, engenho de madeira, forno de barro e galinheiro,
Lá estava cheio de bois, não eram os mesmos terneiros.
Só ainda não tiraram dali, a serra que tem no potreiro.
 
No local que tinha a casa, a escada estava ali,
Sentado nela e recordando, dos bons tempos de guri.
Embaixo dela a mão do pilão e o eixo do carrinho eu vi,
De tristeza estava delirando, a voz do rádio a pilha ouvi.
No lugar do milho, só capim! Saí andando pra disfarçar,
Da gamela e do pelego, num pedaço fui tropeçar,
O pé esquerdo do sapato de quando fui me crismar,
Do velho cachorro pitoco foi só o crânio dele fui avistar.
 
Meu Deus quanta tristeza, porque lá eu fui voltar,
Antes eu vivia em sonho, agora não posso mais imaginar.
Aonde a mata nativa, que a lenha nós ia buscar,
Rumo ao rio fui correndo, até o poço pra nadar.
Ao pular dentro do córrego, de tristeza me pus a chorar,
A pedra que escondia os peixes, encima dela fui sentar.
No lugar que eu mergulhava, mal os pés pude molhar,
Sol quente, e nem árvore, pra mim na sombra descansar.
 
Não vi mais o pé de açoita, nem o cipó pra balançar,
Em que todo o ano dentro dele, o periquito vinha criar,
O pé de cedro onde cantava a juriti e o sabiá,
As pitangas e guabirobas, o ariticum foram cortar,
A canoa só na lembrança, os lambaris e os jundiás,
Cascudo, boca de fogo, o veado e o lobo guará,
Mão pelada e capivara, lebre, quati e o gambá,
O quero-quero resistido ficou sozinho a cantar.
 
Na lagoa pinus e eucalipto e na fonte foram plantar,
Matou a terra, secou a água, nem um gole pra mim tomar.
No lugar que tinha a capela, só o cêpo do sino tinha lá,
A escola e o campinho, nem o caminho que eu ia estudar.
O rodado do carro de boi, dentro da sanga tava jogado,
Derrubaram o muro de pedra, e o bananal foi arrancado,
Num palanque o cabo do lampião e o machado cravado,
Mataram toda a natureza, e meu sonho vivido acabado.
 
Nada aqui eu pude ver, de tudo o que vivi na infância,
Eliminaram o meu viver, o meu sonho de criança,
É uma historia destruída, que ficará só na lembrança,
Meu paraíso foi extinto, pela maldita ganância.
Quero que fiquem sabendo, porque estou revoltado,
É um verdadeiro deserto, se pudesse voltava o passado,
Os belos fatos da vida, só ficarão registrados,
Por que eu resolvi escrever, estes meus versos rimados.
Clairton Buffon, Chapecó, 04 de Abril de 2010.
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