O Progresso do Regresso

 
Ainda vejo na minha imaginação
Fico sonhando com um tão presente passado
Aonde eu ajudava o meu velho pai
Em que o progresso não tinha chegado
Clareava o dia embaixo da varanda
La estava ele num sêpo de lenha sentado
Com o chapéu de palha, remendo na calça
Pés no chão e um enorme palheiro enrolado.
 
Fazia os cabos de foice e enxadas
Com o facão também o cabo do arado
E numa enorme madeira de angico
Que em dois o serrote é puxado
Fatiado a madeira de em cima a baixo
E pro carretão saia o rodado
O cabeçalho, o freio e a caixa
A canga e os canzis ali são fabricados.
 
Batendo com o inxó na madeira
O pilão e a gamela ele cavava
Pras galinhas não entrar na horta
Trançando taquara meu pai cercava
E pros porcos não atacar a lavoura
A mangueira era de pranchas lascada.
Buscar o     milho, a mandioca e abobora
E o ringir do carreto com toda a piazada.
 
Assistir o tombo do grande pinheiro
Que por horas de machado era cortado
Ver a nossa casa com o coberto novo
E do pinheiro as taboinhas eram lascadas
De madeira o engenho pra fazer o melado
Ouvir lá na cascata do manjolo a pancada
Fazer as pipas, o mastél e os balaios,
O laço e a suiteira do couro eram trançada.
 
O grande pomar e o parreiral erguido
Lascar palanques pra cercar o potreiro
A privada era um buraco no chão
Que também servia como banheiro
Fez as cocheiras, o curral e o paiol
No rio um caico, fez a casa e o galinheiro
Pros cachorros não alcançar nos ninhos
Tinha um poleiro lá atrás do chiqueiro.
 
Abater gado e os porcos na mesa.
Saia o torresmo, a morcia e o sabão
Na janela a tabua do balde e do queijo
O salame pendurado embaixo do porão
Papai fez a mesa, os bancos e as cadeiras,
Do barro pisado o forno e o fogão
Fez a cama, o baú e as prateleiras
A bica da pia e também um balcão.
 
Tudo aquilo que produzia na terra
Servia de alimento para bicharada
Fazia o açúcar mascavo pro ano
E nas latas toda a banha era guardada
Ver a tuia cheia com o arroz e o feijão
E também das frutas tinha a marmelada
E o orgulho da bela cantina de vinho
Pra ofertar quando os parentes chegavam.
 
O camponês e sua relação com natureza
Só pro necessário por ele era derrubado
Que pena que o artesão não existe mais
Pois, hoje tudo a gente compra no mercado
Já esta se esgotando as reservas naturais
E sem controle tudo é descartado
É pela ganância de acumular capitais
Que o nosso planeta será exterminado.
 
Clairton Buffon, Chapecó 06 de Fevereiro de 2010   http://poetadaterra.blogspot.com/