Permita-me, caro leitor,
que eu abuse de suas retinas
e entre com palavras tão meninas,
que não conhecem a menstruação do verbo,
nem sabem dos adjetivos perversos,
mal viram lápides e letreiros,
nem sabem do cheiro
almiscarado
do coveiro
que enterra poemas maltratados...
 
Permita que eu ouse
mostrar-lhe o que me trouxe
até diante de seus olhos maduros:
não é uma refogada couve
e nem figos escuros...
 
É tão somente palavras indolentes
que não querem mais trabalhar,
tem as mãos calejadas
e já viram o fundo mar...
 
Algumas, tristes, já foram meretrizes,
já sangraram pelo coração, pelos narizes,
se desnudaram diante de Goya,
outras perderam, nas tramoias,
a sensibilidade para problemas comuns,
viciadas em versos falhos,
algumas, vícios, tem uns...
 
Caro leitor, se o incomodo guardo-as,
levo-as de volta aos seus aposentos;
lá, que é aqui, lavo-as e limpo-as,
depois que vieram moram aqui dentro...
 
Nossa convivência nem sempre é pacífica,
a dor, que é filha do amor,
às vezes aparece, forte, às vezes tísica,
mas sempre explodindo em calor...
 
Fecho este com a observação
que espero que releve,
moram em meu coração...
Obrigado pela atenção,
até breve...
 

Prieto Moreno
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