Aqui, 
onde a enxada espera pela mão do homem,
onde o curso do rio pode ser mudado,
onde nasce a boca e com ela a fome,
onde se limita o curso dos passos,
 
aqui é o lugar onde se espia os pecados,
onde se parte o pão e se guarda os pedaços,
se olha com desdém para o outro que passa,
que vê no que passa a própria desgraça,
 
onde ri o rei do roto em seus andrajos,
a rainha se serve à fartar dos lacaios,
onde põe a espada sua face que queima,
o opositor a lutar contra ainda teima,
 
aqui é o inferno que nunca buscou
quem veio a este mundo para experimentar
o amor de quem se pensa que nos amou
por pensar que pudéssemos nos salvar,
 
aqui é o lugar de provações e culpas,
onde se lê o destino em cartas e runas,
onde não se percebe a luz disfarçada,
que ilumina em nós o tudo e o nada,
 
o lugar que nos priva e tudo nos dá,
a beira do abismo e a redenção,
onde viemos, de muito longe, morar,
o antes do paraíso, o antes da salvação...
 

Prieto Moreno
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