Oh Senhor,

meu vizinho tem um cachorro nada amistoso,

que nos olha como se com ele tivéssemos desavenças;

certa feita saltou o muro, enfurecido, com olhos injetados,

na certa não tinha fome mas me mordeu a perna

causando um profundo ferimento...

 

Gritei pelo vizinho que chegou esbaforido,

prendeu o cão e o levou para o seu quintal...

 

Voltamos a conversar e ele me disse que cuidaria de tudo,

chamaria o veterinário para saber da saúde do cão,

custearia as despesas para o tratamento da perna,

faria o que fosse possível para atenuar o acontecido...

 

Antes de ir voltou-se repentinamente e me perguntou

se eu acreditava em Deus, se para ele eu voltava meus olhos,

se consideria que esse acontecimento fosse visto

como um fato de anunciação de alguma coisa...

 

Disse-lhe eu, não ser antes o fitar com ironia,

que Deus havia conversado com o veterinário

instruindo-lhe para que estudasse o assunto,

se formasse, abrisse seu consultório,

porque num certo dia alguém seria mordido,

é claro, eu, e deveria estar preparado

para ajudá-lo, (eu),  porque o dono do cão,

um sujeito que pedia por bençãos

e passava o dia cuidando de velas,

não prestava atenção às coisas à sua volta,

como o cão enfurecido, nem se desculpava

por fatos acontecidos pois dizia que Deus

é quem comandava os acontecimentos...

 

Se é que podemos falar que Deus falou alguma coisa,

Ele disse que amava os cães, todos, os mansos e os furiosos,

que não tinha aberto nem um canil e que os homens, eles sim,

deveriam cuidar deles pois já havia dado as condições 

para que todos aplicassem no dia-a-dia seus ensinamentos,

como tornar seus cães os mais mansos possível,

sem se preocupar em orar e pedir, interminavelmente,

para que Deus de ocupe com coisas

que os homens é que deveriam cuidar...

 

 

 

 

 

 

 

 

Prieto Moreno
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