Sente-o de verdade

Sente-o de verdade

Eu já tive e andava numa bicicleta
Andava nela não por último recurso,
Mas porque a comparava a uma avioneta,
Fraca de recursos, um dia dei cabo dela!

As peças soltas para nada me serviam,
Eram uma dor de cabeça estar com ela,
O que eu queria já me tinha também visto,
Um Coche azul e cheio de bravos cavalos!

Era fruta demais para quem tudo podia,
Enfim! Na verdade juntos não me satisfaziam,
Eu queria descalço sentir o odor do soor,
Perceber que a dor era de união não de convenção!

E um dia afinal quando caminhava sobre asfalto,
Com os pés cansados do sacrifico que quase já caia,
Desamparado mesmo, pela imensidão da avenida,
Sua mão pegou na minha e tive pão de um abraço!

Suspirava já aflito no desconforto do meu fim,
O divino que eu acreditava, me havia ali sido mostrado,
Um rosto que mal via suas formas, tal era a desilusão,
Perdi vontades de tudo, menos mudei o meu coração!

Eu acreditei até ali que alguma coisa me levaria,
Coisa, porque já não acreditava encontrar tais vibrações,
Mas no fundo o que eu queria era ver e já poder querer,
Tais foram as ilustres e artimanhas das desilusões!

E como peça de magia, num teatro realista,
Os ventos refrescantes que restavam da viagem
Atiraram até mim, não uma coisa intriguista,
Mas sim um coração divinal como o de miragem!

Agarrei-lhe fortemente na mão do corpo que gritou,
Sentiu o conforto de uma dor electrizante,
Quando seus olhos cruzaram os meus,
Nada depois igual jamais ficou!

Consegui falar exactamente o seu dialecto,
Que perto do meu, era perceptível,
Não fácil de acreditar e falar,
Mas absolutamente sonho realizável!

António Benigno
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