O Milagre de Natal                                                        
 
                                                       Vinte e quatro de Dezembro de um ano qualquer. O vilarejo de Santa Maria comemorava os festejos de nascimento do Menino Rei. Na pequenina capela, o badalar do sino anunciava a vigésima quarta hora daquele dia especial. A tradição exigia muita oração dos fiéis que assim procediam. Antônio Carlos, filho do Seu Baltazar e da Dona Clarinda, era um garoto ímpar e no vigor dos seus treze anos, quando as crianças dessa idade preferiam a diversão, ele assumira o posto de “coroinha” em período quase que integral de sua vida, participando ativamente de todas as atividades cristãs da comunidade. O Padre Benito não poupava elogios a seu “pupilo” e dizia que o “Antoninho” seria seu sucessor muito em breve, pois acreditava que o menino era um enviado do Senhor.
                                                       Vinte e três de Dezembro, Antônio Carlos acordara bem cedo e fazia a costumeira faxina da “Capela de Santa Maria”, onde na noite anterior ajudara na montagem de um magnífico presépio que orgulharia o próprio Jesus. Encantado com o quadro que reproduzia com extrema beleza o nascimento do Messias, bem ali no altar da humilde Casa de Orações, o pequenino ficou parado por alguns minutos observando e de tanto observar, percebeu algumas manchas na face da estátua que representava o “Menino Deus”. De posse de um pano úmido o prestimoso guri logrou esfregar o local onde as manchas estavam sem porem obter êxito em removê-las. Inconformado com a situação decidiu levar a estátua, que não era muito grande até o lavatório para melhor exercer a fricção necessária para remoção das incomodas manchas.
                                                       Detergente é muito bom para remover manchas, mas suas propriedades escorregadias podem provocar acidentes, então, ploft, quebrou-se o Menino Jesus, não o verdadeiro, a estátua. Antoninho desesperou-se. Como explicar ao Padre e aos fiéis, o acontecido, justo ele que era tão querido na comunidade. Um vidro de “cola-tudo” resolveria o problema. Não ficaria uma Brastemp, mas o “Anjo Criança” estaria novamente inteiro. Pela tradição do vilarejo o presépio ficava coberto até a meia noite do dia vinte e quatro quando então era revelado aos fieis. A missa estava para começar e o Padre Benito estava preocupado, pois seu pupilo simplesmente desaparecera, onde está esse menino, o sacerdote indagava em seus pensamentos, justo hoje, o dia mais importante do ano ele some, o que será que aconteceu? Enquanto isso, a igreja ia ficando cheia dos devotos do cristianismo. Faltavam cinco minutos para o inicio do período de orações e não cabia mais ninguém na pequena capela, toda a comunidade estava ali, menos o Antoninho. Padre Benito, apreensivo pelo sumiço de seu “pupilo” andava pelo altar impaciente, onde está esse menino, inferno, ops, desculpe-me Senhor, é apenas força de expressão, corrigiu a tempo o aflito sacerdote, eu mato esse “guri”, perdoe-me Senhor, não consigo me controlar, esse era mesmo o termo, descontrolado, o nobre servo de Deus descontrolara-se, dando a impressão que o padre era o Antoninho e não ele.
                                                         A verdade é que a missa sem o “pupilo” era algo impensável, pois isso nunca acontecera desde que o “fiel mancebo” assumira o posto junto à sacristia daquela modesta moradia de preces. Não podendo mais aguardar a chegada do “ajudante” Padre Benito começou a missa natalina.  - Estamos aqui reunidos, sem o Antoninho, hã, hã, quer dizer, cadê esse menino? Desculpem-me, estamos reunidos mais uma vez em nome de nosso Pai que está no Céu, mas onde está o “Toninho”, perdão, alguém viu esse menino? Não houve resposta da plateia, então ele continuou, se alguém souber onde ele está me avise, eu vou mata-lo (disse baixinho entre dentes) esboçando um sorriso amarelo, enquanto pensava e mais uma vez entre dentes murmurava pra si mesmo, “moleque desgraçado onde você está”, e em seguida pedia perdão a Deus, foi assim até o grande momento, a hora de descerrar o pano que cobria o presépio. O Padre Benito convidou D.Genoveva, uma anciã que aos olhos da comunidade era a cidadã mais cristã do local, para as honras do descerramento natalino. O espanto foi geral quando o sagrado lençol veio abaixo.
                                                          Entre as estátuas de Maria e José, deitado meio de lado, com o rosto praticamente encoberto, o menino Jesus parecia vivo e muitos desmaiaram ante à cena enquanto outros gritavam: - milagre, milagre, e caiam de joelhos fazendo o sinal da cruz, evitando olhar para o cenário divino ali representado. O Padre Benito, devoto, mas não muito convencido aproximou-se e deu a volta para melhor observar, constatando surpreso que seu querido “pupilo” era a “estátua” viva, mas para não perder a “clientela” saiu gritando: - Eu Sabia, Eu Sabia, Jesus voltou...
            
Pedro Martins
24/12/2013

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