Por que fogem os ares que respiro
e me sufoca este desejo intenso?
Por que eu vivo mundo em meu retiro,
quando posso bradar tudo o que penso?
Em meu coração de amores sedento,
nenhuma nota alegre preludia...
Eu sou de minha sorte um frio detento,
sou quem caminha contra a ventania!
Se no confim celeste que me encanta,
sequer um lume invoco descontente,
afogam-se estes astros como Atlântida
de nuvens numa infinita torrente.
E foge-me a virgem por quem pranteio,
esquiva como as sombras da floresta,
mais silente que as cordas de meu seio...
sem viço p`ra tremerem na seresta.
Oh! Por que me fogem estas intrigas?
Lira... por que de mim tu já fugiste?
Sem ti morrem os sonhos e as cantigas,
não vês que aqui na Terra eu vivo triste?
Transporta-me desta cruel estrada,
pois sinto-me tão só na multidão...
Assole com tua solene espada,
as grades de meu ermo coração!
© Todos os direitos reservados