Por que fogem os ares que respiro

e me sufoca este desejo intenso?

Por que eu vivo mundo em meu retiro,

quando posso bradar tudo o que penso?

 

Em meu coração de amores sedento,

nenhuma nota alegre preludia...

Eu sou de minha sorte um frio detento,

sou quem caminha contra a ventania!

 

Se no confim celeste que me encanta,

sequer um lume invoco descontente,

afogam-se estes astros como Atlântida

de nuvens numa infinita torrente.

 

E foge-me a virgem por quem pranteio,

esquiva como as sombras da floresta,

mais silente que as cordas de meu seio...

sem viço p`ra tremerem na seresta.

 

Oh! Por que me fogem estas intrigas?

Lira... por que de mim tu já fugiste?

Sem ti morrem os sonhos e as cantigas,

não vês que aqui na Terra eu vivo triste?

 

Transporta-me desta cruel estrada,

pois sinto-me tão só na multidão...

Assole com tua solene espada,

as grades de meu ermo coração!

 

 

Alexandre Campanhola
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