Após uma valente feijoada
Por antecedente a mais pura cachaça
Regada a goles de cerveja
Corpo todo na inércia benfazeja
Recostado na vasta preguiçosa
Sonhava com a vida cor de rosa
Uma visagem surgiu a minha frente
Dizia ser um anjo
Das inúteis asas desnudado
Se etéreo, porquanto ser alado?
Pergunta-me solene e conciso
Se é minha ambição o paraíso
Sem pestanejar digo que sim
Naquela voz pastosa que me escapa
Sem entender a besteira que fiz
Vais para o céu agora o anjo diz
Tremi e ponderei: Tremenda sacanagem,
inda nem arrumei minha bagagem
Estamos levando, informou
Só ao purgatório, depois ceu
Não ao inferno, assim fica entendido
Na amostragem você foi escolhido
-“Seu” anjo então entrei em fria
Não era bem isso que eu queria
Fiquei a cismar, que anjo estranho
Imaginei a Morte diferente
Alfanje as costas, face escaveirada
Vestes pretas e toda encapuzada
E não assim, trajada no aparato
Faltou a titular, mandaram um novato
Apelei a todo e qualquer santo
Ele todo sereno e eu apavorado
Tentei escapulir saindo de fininho
Imaginei ser zoada do vizinho
Tentei me levantar e deu em nada
Desabei como arvore serrada
Voltando a ser eu, menos borracho
Perscrutei cada canto a minha volta
Muito insisti, não vi o esquisito
Creio depressa voltou ao infinito
Belisquei-me, cutuquei-me, me mordi
Sei lá se vivo ou morto, estou aqui!
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