Quase perto..Quase só..

a solidão da lua e do sol
que quase nunca se encontram
brilhando no mesmo farol
a solidão entre o goleiro e a bola
enquanto a pega no fundo da rede
e quase num lamento chora
...para o peixe a solidão é o anzol
a de um passarinho, é um alçapão
da águia, a velhice
do perpétuo condenado, a prisão
a solidão das mãos é o adeus
da boca é o silêncio
dos olhos é o sono
para o urso o inverno,
de um rei o seu trono, prum filho o abandono
para o desejo, é o convento
para o poeta é a palavra ausente
que por ele grite aos quatros ventos 
tudo que o alimenta..
piora quando não tem quem o entenda
fica como um livro sem um leitor
isolado numa estante,
como a cena sem o ator,
qual pai e filho distantes..
a solidão é triste para quem mal casa
paciente é a solidão da amante
não importa se bem ali ou onde
faz ter esse sofrer tão perto e tão longe
à dois ou numa multidão, só ou naquela balada
a solidão pode estar, aqui ou em qualquer lugar
como foi Eurídice, de Orfeu,
por uma cobra separada
é cruel a solidão do espinho
quando são as rosas arrancadas
a solidão de um oásis no deserto
assim é estar quase só, mas quase perto

a linha tênue da presença e da ausência...

Meu escrit

André Ferreira
© Todos os direitos reservados