O CASAMENTO DA LUA

 

Em uma noite profunda e tenebrosa

nos braços do desvario,

o pobre moço co`a alma suspirosa

olhou p`ro céu e sorriu.

 

Após anos namorando os vagos passos

de sua noiva silente,

ele queria unir-se com fortes laços

à lua lucipotente.

 

Tremia muito em seu peito delirante

o coração cheio d`ânsia;

e ele esperava aquele festivo instante,

qual um presente na infância.

 

O negro céu era o altar; a cerimônia

da noite na sala escura

tinha sua mãe numa chorosa insônia,

por sua triste loucura.

 

Tinha um tapete de estrelas prediletas

p`ra noiva ali desfilar;

as cantigas dos inúmeros poetas,

e a brisa fresca a soprar.

 

Ela surgiu em meio às trevas sombrias

com nebuloso vestido,

um buquê que era do mar as ardentias,

um olhar arrependido.

 

Caminhando sobre os perfumados ares,

por sombras celestiais,

a lua ouviu lá dos altos patamares

de seu noivo os meigos "ais".

 

Derramou uma lágrima cristalina,

antes da celebração,

e o moço lamentando sua acre sina,

da mudez ouviu um "não".

 

Ocultando-se em uma nuvem errante

desculpou-se p`los engodos;

não podia casar-se com seu amante,

porque a lua... ela é de todos.

 

Alexandre Campanhola
© Todos os direitos reservados