Pousada à beira de um lago
Estava uma borboleta sem cor.
Com alguns furos no meio das asas
Olhando seu reflexo com certo temor.
Ao vê-la, aproximou-se um beija-for,
Olhando também o reflexo logo exclamou:
- Vejo a imagem de uma borboleta alquebrada
Com feridas que não sei quem as causou.
A borboleta ergueu o rosto opaco, olhou-o profundamente,
Não tinha forças nem para responder.
O beija-flor sorriu-lhe compassivo
E numa ternura desmedida se pôs a dizer:
- É a primeira vez que vejo uma borboleta sem cor alguma,
É como ver um ser sem coração.
Você mesma se assusta se vendo tão vazia,
Talvez procurando em si mesma uma explicação.
- Coração não tenho mais - respondeu ela enfim.
O que eu tinha o Sol já levou.
Sabe o que é amar a ponto de entregar sua vida?
Sabe o que é desejar morrer por alguém que lhe deixou?
Esta borboleta sem cor é a prova do meu padecer,
Pois a vida que eu tinha a solidão já extinguiu.
Porque aquele a quem tudo em mim pertence
Da minha existência sumiu.
não te falo para te transmitir penúria,
Te falo porque cansei de fingir está tudo bem.
Vim para a beira deste lago
Chorar as feridas perfuradas por esse alguém.
Ele está ali - apontou para o sol - é aquele!
Nem mesmo posso sonhar em tocá-lo.
Ele faz doer os meus olhos cruelmente
Só para não me permitir olhá-lo.
Deixe-me cá só, até que este lago me engula.
Preciso esquecer que amei perdidamente aquele ser.
Preciso me libertar dessa vida sem felicidade
Dessa vida que já não me oferece nada para viver.
O beija-flor não pôde conter as lágrimas,
Fechara os olhos enxugando as que brotavam copiosamente.
Ao abri-los dera um grito em desespero
Ao ver a borboleta lançando-se ao lago ferozmente.
Gritou-lhe desesperado, voou por cima dela,
Sem ter coragem de tentar detê-la.
Se fizesse isso o lago o engoliria, suas asas pesariam,
Também morria, então se dispôs a somente vê-la.
As asas da borboleta já estavam imergidas,
Via-se apenas o cintilar dos olhos seus.
Ela lançou um último sorriso ao Sol
E cerrando os olhos disse: - Adeus!
© Todos os direitos reservados