Sensação de vazio... Algo está claramente faltando...

Faz frio, não há mais o teu corpo para me aquecer do inverno.

Foi uma ilusão, será que sonhei algo feérico e eterno?

Ao longe, muito longe, ainda ouço tua voz a mim falando...

 

Quanto mais tento te alcançar quando corro, mais tu ficas distante...

E eu que sempre me considerei desafiador, cansei da luta...

Escancaro as portas procurando por ti em atitude bruta

Mas por dentro estou manso e calado, desalentado a cada instante.

 

Páginas em branco do que eu poderia escrever e não escrevi.

Palavras que eu queria te dizer e nunca disse.

Ações que eu queria tomar em nome de sentimentos e seriam apenas o índice

De uma história que seria um mito, um conto de fadas onde já morri...

 

Sinto que nunca mais terei diante de mim a tua presença.

Nunca mais ouvirei tua voz a emitir o belo som.

Talvez seja algo digno de alguém que por mais que tentasse, nunca foi bom

E caminhou para fora do sol e para dentro da névoa densa...

 

Provei algo doce como ambrosia e agora provo o mais amargo vinho.

Tanto frio interno... Melhor seria se viesse logo a morte.

Não escorrem lágrimas, mas há em mim um pesar tão forte

Que julgo nunca ter tocado as pétalas da rosa e sim o doloroso espinho...

 

Quando te conheci, o que já era distorcido tornou-se a má sorte do meu zodíaco,

Mas eu insisti e tornei-te o meu ideal derradeiro e supremo.

Nenhum perigo, se for por ti, mesmo agora eu temo:

Nem se for algo angélico, nem se for algo demoníaco...

 

Sinto algo estranho em mim e obviamente meu espírito está triste.

Esqueço-me de ti por alguns dias e um único dia em que te relembro

Eu automaticamente me despedaço, me desmembro

Em um amor que deveria morrer, mas que insiste...

 

És meu primeiro dia da eternidade, meu último dia do ano.

E me odeias, pois só fui ideal para ti em teus sonhos.

Falhei contigo sem falhar, fui eu mesmo mesmo em dias medonhos,

Mas querias um Deus idealizado e fui apenas humano...

 

Tu estás para mim em um nível muito acima, muito além dos desejos,

Pois foste para mim o próprio e infinito universo!

Fui para ti algo que deveria ser sublime, mas foi o total inverso,

Posto que querias algo duradouro e o meu eu te deu apenas lampejos...

 

Eu sinto a dor do supremo e irremediável fracasso.

Falhei contigo e isto significou falhar em tudo!

Enlouqueço diariamente sem ti, corro solitário e desnudo

Em devaneios onde tudo o que ainda faço é por ti em meu limitado espaço...

 

Enxergo ao longe o que eu anseio tanto em abraçar: Meu fim.

Não mais pelo amor que tanto sinto, mas por querer me livrar da desgraça

De tê-lo perdido por não entender tua mente, por não beber de tua taça

E por isso, ver sangrar meu céu em um jorro carmesim...

 

Tudo tão escuro diante de meus olhos, arrasto-me em uma pilha de entulho;

E este entulho é tudo o que fui e sou, enganado por minha fantasia.

Eu tento te trazer de volta para minha eternidade de luz, mas és sombria...

E minha luz vai se apagando... Frio... Inverno... Eis minha elegia de Julho...