És tu, és tu o motivo
da incessante estafa minha,
para consolar-te eu vivo
- miserável das rainhas -
Sou vampiro de teu sangue,
feitiço de nobre efeito,
eco que me torna langue
oh! rainha do defeito.
Quando teu lume me chama,
quando desabrocha o amor,
maldição que em mim se inflama,
choro contigo na dor!
Vives na infinda pobreza,
furtas a luz dos clarões;
de quem roubaste a beleza,
mausoléu dos corações?
Por ti, só por ti tresnoito,
nódoa que à morte me leva.
Quero ser-te sempre afoito,
minha pura ruína: Eva!
Quero beijar tua boca
e tue delírio embeber.
Sem meu talento, qual louca,
o que haverias de ser?
Sem teu charme na cegueira,
como da Terra um infante,
perder-me-ia na poeira
frágil, singelo e distante
dos prazeres que a indigência
com fúria se apoderou;
pobre, sou tua carência,
e na vida quem te amou!
Um palácio tens em mim,
como em ti eu tenho a flor;
Sou quem te rega - Jardim -
embalsamado de amor.
Poema escrito em 21/08/2002 para o livro " Monotonias da Noite"
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