O Sonho

 

Naquela
manhã, ao abrir os olhos senti que duas lágrimas escorreram pelas laterais da
minha face. Fiquei alguns segundos olhando o vazio enquanto meu cérebro
procurava respostas para a sensação de abandono que invadia meu coração. Eu
estava bem, não sentia nenhuma dor física diferente das costumeiras, a
respiração estava boa, os batimentos cardíacos, aferidos de maneira manual
também indicavam normalidade. Estendi a destra, sem levantar-me e tive acesso
ao precioso liquido que sempre deixo no criado mudo que fica ao lado da cama,
sorvendo alguns goles para aliviar a secura que incomodava minha cavidade
bucal. Minha esposa ainda desfrutava do prazer do sono matinal, aquele que
antecede o reencontro com a realidade do dia a dia. Apreciei sua face serena,
tive vontade de acariciá-la, mas me contive, não tinha o direito de interromper
momento tão sublime. Levantei-me sorrateiramente e fui sentar-me na varanda
para vislumbrar a chegada de nossa estrela soberana que aconteceria dali alguns
minutos, dez ou mais, talvez. Recostado confortavelmente na “cadeira do vovô”
foi impossível evitar um breve cochilo, pois as pálpebras pareciam pesar
toneladas. Não esbocei a mínima reação e fui novamente ao encontro de Morfeu. Senti-me
leve, quase voando e de repente vi-me em uma grande fila. Era uma fila de
proporções inconcebíveis à mente humana, tamanha sua extensão e de onde estava
não era possível precisar onde começava ou terminava. Tentei comunicar-me com o
senhor que estava à minha frente, mas ele respondeu-me com palavras que eu não
podia compreender. Voltei-me para a senhora que estava atrás de mim e ocorreu a
mesma coisa. Que estranho, pensei. - Que língua é essa que eles estão falando?
Não consigo entender uma palavra do que dizem. - como vim parar nesse lugar? -
e afinal de contas, o que estou fazendo nessa fila?  Nesse momento, que procurava por respostas,
percebi que um jovem, trajando uma túnica que possuía brilho próprio aproximou-se
olhando profundamente em meus olhos e estendeu as mãos que emitiam pequenos
fachos de luz azulada. Num ato quase involuntário estendi minhas mãos e quando
nos tocamos, fomos arremetidos para o alto em uma velocidade incrível até
atingirmos uma pequenina nuvem de cor amarelada e ali nos instalamos para
observar o que acontecia abaixo de nós. – veja, disse o jovem, apontando a
infinita fila, todas essas pessoas são seus irmãos e caminham há algum tempo
sem entender o que acontece com elas. Elas estão assim há milênios, mas ainda
não perceberam que não deveriam estar ali. – mas, que fila é essa? Indaguei.
Você saberá, no momento oportuno, agora isso não é importante, disse o sereno
mancebo. Venha comigo, vamos conhecer algumas pessoas dessa fila, e antes que
pudesse dizer algo já estávamos novamente em solo firme caminhando ao lado da
impressionante coluna humana. Dessa vez pude observar melhor as pessoas que
caminhavam como se fossem “zumbis” de forma incessante sem um destino que
pudesse ser visualizado, porem não me era possível identificá-las, pois seus
rostos ficavam encobertos por uma estranha fumaça cinza. Conforme caminhava,
uma estranha sensação de perda envolveu meu coração e comecei a recordar de
amigos e parentes que já não estavam entre nós e à medida que pensava eles
foram se materializando a minha frente como mágica. Nesse momento a enorme fila
desapareceu e vi-me em um grande salão com uma gigantesca mesa retangular onde
estávamos todos sentados em confraternização. Na cabeceira da mesa, uma
figura singular chamava a nossa atenção e iniciava um pequeno discurso em uma língua
que eu não conseguia compreender. Incomodado com a situação tentei levantar-me,
mas senti uma mão em meu ombro que me cutucava e escutei a fatídica voz: -
acorda dorminhoco, está na hora de trabalhar, era minha sogra...  

 

Pedro
Martins

16/03/2012

         

Os sonhos permitem que possamos realizar nossos desejos ocultos porem ao despertar, a realidade às vezes é um pesadelo, hehehehehehe...

Pitangueiras, em mais um devaneio poetico

Pedrinho Poeta - Pitangueiras-SP-
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