Pouco me sei e me acho menos, no início de um dia soturno. Nesse todo
tão desprovido, insólito e que chego a perscrutar o ruído, quase inaudível, de
meus fantasmas agitados, naqueles cercos reiterados. E vendo-me assim,
no reflexo dos espelhos e das superfícies, a constatar apenas a resposta
de imagens ao avesso; das linhas distorcidas e esmaecidas. De um
qualquer jeito, que me incomoda, refletindo em meu psique impaciente
e raivoso. Sentindo a pulsação agitada de um coração que não parece meu.
Repercute só alaridos em meu peito, sem convicção. Deve ser daquele meu
eu, inimigo de mim, que sustento sem querer e a toda hora tento fugir
dele em vão.
E se tudo é tão impecável do que simplesmente é, e se meus trajes: alguns
antigos, trazendo recordações, que insisto e guardo e perco, para sempre.
Fazendo-me pensar agora, a me questionar, se devo sair pra enfrentar a
vida lá fora. Mas antes, seria necesssário incluir alguma coisa, justo no vestuário
incompleto. Talvez colocar uma gravata, calçar outro sapato, estudar novos
trejeitos, fingir alegrias. Tento retirar algo diferente do meu armário, mas súbito,
surpreso, não consigo vestir nada, nem me encontrar no meu já destraído olhar.
Reconheço quão pouco achar ou a perder pra fora do sono, até no mais
leve. Acho que vou deixar de lutar contra todas às minhas velhas novas revoltas.
Corro para a rua e com meu passo duro, vou expulsando os miasmas destrutivos
de minha cabeça e arrancando de cima de mim, as roupas que me cobrem.
É ridículo vestir-me assim, quando minha alma encontra-se há tanto tempo
[ desnuda . . .
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