Ah ! Esse  som  quase   nosso,  na  reza  dessa  nossa   ave  Maria

que como um frasco  de  cristal  entreaberto, lança  uma  sensação

de  perfume  no  ar,  que  atiça  doloridas  recordações   sem   cura

Só  que  toca,  atinge  e  perfura  chagas,  algumas  antigas

outras  breves,  reacendendo  num  algoz  rebuliço

                    [ o  que  vivenciávamos . . .

Descompasso  do  consumido,  induzido  da  culpa  que

espezinha  e  que . . . como  dói

                         [  e  arde  e  fere  e  nega  e  diz  não !

Acaba  agitando  essa  caliça,  dos  escombros  de  todos  os   muros

com  teu  nome  escrito  ou  não  ( alguns  esqueci  escrever )

desse  nosso  caso,  que  por  um  acaso  subvertemos

e  o  que  não  era  invenção  e  sim  conversão;  morreu  junto

E  quase  frio  e  quase  duro,  tentei  enterrar  tudo

Seríamos  talvez  os  mesmos  agora,  porém  mais  enfermos,  enlutados

testemunhas  que  insistimos  ser,  de  nossa  própria  deserção

                                      [ inertes

Fomos  o  que o  amor  nos  cobrou,  sem  nossa  força  pra  bancar

nem  que  de leve,  o  que ele  não  pôde  mais . . .

Leva  pois  teus  defeitos,  afeitos  a  sina  humana de  errar

sem  obter  sequer uma  resposta

                                         [ que  não  veio . . . nem  vêm

Na  afonia, catatonia, ocos  ecos  mudos,  quando  apagaram-se  as  luzes . . .

em  que  tudo  e todos  foram  embora

                                [ só  nada  e  ninguém; ficou !

Apenas  espíritos  inconformados, que  e  em  coro,  entoam  a  oração . . .

                               [  "Ave  Maria  cheia de graça . . . "

 

versejando ( ao estilo de Pessoa )
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