Relicário da dor

Quando um basta não chega nunca,
tenho um lábio inferior
que treme quando a coisa fica insana!
Um olhar muitas vezes insone
em meu rosto aéreo...
Se cada uma coisa
tivesse acorrido de forma diferente
eu seria muito mais crente
de que a felicidade persiste
Agora essa tristeza
que me dá bom dia
também grita por minha atenção
quando estou distraída
vibra com os papéis na mesa
as canetas no chão, caídas
Pra cada basta que dou
há um outro que não chega nunca!
Em cada passo que dou
uma corrente de lembranças
arrasta-se comigo
Que infortúnio!
Sou alma penada deste mesmo mundo
o dos vivos, eu digo!
E qual fora mesmo
meu sorrir leviano, ledo engano, tola...
Quisera como Álvares de Azevedo
me suicidar no esquecimento
viver lembrando também é
auto-punição e tormento
Perdão, meu Deus!
Se não considero as Tuas bençãos
  - é esse basta que não chega nunca -
aí, eu me tranco, me flagelo, me acalanto
eu sinto muito por ti, por mim,
por nós e por tudo...
O relicário da dor só seria objeto
se o pudesse considerá-lo desumano
mas ele é gente, ele sou eu!

Grata por me lerem............ como sempre!
Elisa Gasparini
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