Porque partem tão cedo
as pessoas bonitas do meu país?
Porque morrem tão cedo
as pessoas que me fazem feliz?
Será por medo de viver,
ou por Desencanto?
Porque vejo desaparecer
as pessoas que amo
e me deixam em lamento
profundo,
Infeliz e em pranto,
chorando de saudade,
porque me vejo só
no Mundo?
Tu
que me fizeste nascer
e no aconchego do teu colo
eu me vi crescer,
partiste tão cedo
e me deixaste na alvorada
do meu viver,
quando ainda não sabia
o meu querer.
Sem preparo
e num dia
de grande sofrimento,
vi chegar ao fim
o teu tormento.
Cedo demais para mim,
que à deriva fiquei
pelo teu partir!
Como eu lamento,
o teu ir,
sem me importar
do teu sofrimento,
porque dele, da tua dor,
haveria Eu dividir,
fazendo do teu tormento
o meu sofrer
e dele,
ficaria com a parte maior!
Como Eu lamento,
o teu ir!
Porque morrem tão cedo
as pessoas que me fazem feliz?
Porque partem tão cedo
os artistas do meu país?
Será por recusa de viver,
ou por Desencanto?
Porque te foste tão cedo,
Domador das palavras ditas,
quando ainda havia muito para
falar... Declamando?
Vi-te, poeta do sorriso sério,
falar da doçura de Neruda,
da loucura de Fernando,
lembrando que de Pessoa
e louco,
todos temos um pouco!
Vi-te, de rosto crispado
falar sobre a palavra épica de Brecht,
quando este
denunciava o sorriso dos feios!
E vi-te, antes de partires,
de dedo em riste
e sorriso triste,
zangado,
ressuscitar o Manifesto Anti-Dantas:
Morra o Dantas, morra, Pim!
Num grito que Almada viveu sufocado,
e que tu, Poeta das palavras Bem Ditas
lhes deste alma e cor!
Almada jamais te pôde agradecer,
mas do Ipiranga, veio o grito
de Vinicius, em forma de vénia,
que me fez estremecer!
E Vénia farei,
enquanto Eu puder viver!
Como eu lamento
teu cedo desaparecer!
Triste para mim...
alegre,
para os feios
do meu país!
Porque te foste tão cedo,
Poeta da castração negada
em palavras Malditas,
cantadas por musicas bonitas
em fados e acordes
que desassossegam os feios?
Lisboa menina e moça, menina
linda e altaneira,
em agradecimento eterno,
vai à Graça,
à Estrela ou à Praça
da Figueira,
buscar o calor que acendeste
numa castanha,
em tarde fria de Inverno!
Porque te foste tão cedo,
Poeta da Rua da Saudade?
Porque cedo viste
o olhar do teu povo triste?
Como eu lamento
este teu cedo ir!
Triste para mim...
alegre,
para os feios
do meu país!
E tu,
poeta das Cantigas do Maio,
que tão cedo deixaste
a tua Vila Morena
em terras de sol quente,
em madrugada por amadurecer.
Sabias que Abril
estava a morrer?
E tu,
Poeta-cantor
da Canções com Lágrimas,
que te deixaste afogar
num ébrio desencanto,
cantado no teu pranto
em voz doce de embalar.
Que me cantaste,
que a verdade
é mais forte que as algemas,
e te deixaste aprisionar
na vontade de não viver.
Quem me cantará
as baladas que escrevo...
e que não sei cantar?
Porque quiseste morrer,
poeta da Menina dos Olhos Tristes,
deixando-me infeliz com lágrimas
sobre o olhar chorado de Abril?
Porque te foste tão cedo,
infeliz,
do teu desencantado País?
E tu,
Poeta-Barbeiro,
cantor do engate,
porque me deixaste
refém e saudoso
do teu gingar
em variações
em que o meu corpo
gingava no teu,
para prazer
da minha mente?
O corpo é que paga
quando a cabeça não tem juízo,
mas para meu consolo
e bom siso,
encontro no teu gingar,
explicação
para a recusa e bom tom,
em não partilhar
do mau gosto
que vejo crescer
no gosto do meu País!
Porque partem tão cedo
as pessoas boas do meu País?
Será por Desencanto?
Ou porque os feios
não deixam espaço
nem tempo, nem canto,
para os que falam e cantam
sobre o Desencanto Mal-Fadado
deste pobre País?
Porque morrem tão cedo
as esperanças
no meu País?
Será por Desencanto?
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