Cenas de uma vida amarga
Me tomam nessa longa estrada.
Caio no profundo anseio
De um mundo sem desespero.
Quero, querendo. Quero, buscando.
Vendo, quero. Compro e ganho.
Assisto ao ato de camarote,
Nas sacadas ocultas deste imenso teatro,
Que chamo VIDA.
Mas de mero espectador não passo.
Lembro da tarde na enseada,
Lembro dos canários no campo,
Lembro da dor da ferida causada,
Da perda de um ente querido,
Da exploração de um mundo tranquilo.
E choro.
Choro ante ao teatro da vida,
Não me alegra mais a passarada,
Não me alegra mais a beleza dos mares,
A magia dos campos.
Pergunto-me em grande expectativa:
Acaso é isso uma tragédia?
Não das escritas por Shakespeare,
Mas, tal qual, feita por nós.
É uma tragédia afinal?
No fim o mal vence o bem?
Finda a luta, finda a dor,
Só nos resta o cinza e o horror?
E se tragédia não é,
Por que neste mundo vivido
E sôfrego
Pouco vejo do amor?
Assisto a essa peça de camarote.
Vejo e sofro, sinto e anseio
Uma mudança.
Mas nada faço.
Estou preso a esse eterno estado
De espectador maculado.
Davi Abreu Wasserberg
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