A vida lhe era a carrasca
E a morte sua inimiga
A lágrima descia das pálpebras inferiores
Tingindo um traço sem cor,
De amargura e tristeza
Nas bochechas de quem carregava o rancor...
Corroído, o peito falido.
Incompleto, indizível em sentimento,
Inexplicável até tal momento.
Ele era só ele,
Em seu mundo,
Sem sua luz,
Sem ter nada...
Mas sua dor era um peso profano
Que jogava-lhe cada vez mais fundo naquele mar denso
De esperanças perdidas, de sonhos quebrados,
De escuridões de um mal inigual dotadas...
Era só ele, em suas gotas quentes,
De desafeto e desprezo,
Até que naquele momento,
Algo mudou...
Uma pessoa a mais chorava,
Lágrimas puras, de injustiça,
Carregadas de sentimentos profundos,
De uma chaga que abalaria o mundo,
Se em um momento sequer, em contato entrasse...
E das lágrimas dele... quis se abster,
Para as lágrimas dela, poder conter...
Superar seu rancor, para que pudesse curá-la
Do cruel dessabor da realidade amarga...
E ele, com ela, foi só boca...
Que tragou as lágrimas amargas
Que na boca dela escorriam...
E no calor de um ato tão puro
Secaram-se os pingos
Do eterno descaso que cansa a alma...
Ele se fez forte
Para apenas curá-la...
Num último momento...
Em que a cura foi necessária...
E ainda depois... da cura alcançada...
Ele era só boca... sobre a boca dela
Davi Abreu Wasserberg
Licença
Sob licença creative commons
Você pode distribuir este poema, desde que:
- Atribua créditos ao seu autor
- Não use-o comercialmente
- Distribua-o sob essa mesma licença