O PRESENTE DE NATAL
Era mais um triste natal para Adélia. O barraco vazio e pobre, uma cozinha e um quarto-sala -tudo. Dois catres com cortinas, muita pobreza, mesa, bancos, televisão, uma geladeira enferrujada.
Na mesa, dois pratos e uma pobre ceia posta.. Frango, arroz. Arroz com passas!Fizera, pois seu filho gostava tanto! Na geladeira um refrigerante e sorvete.
E ela sentada esperava que ele chegasse. Esperava desesperançada, pois ele metera-se com um bando de “vagabundos” e raramente aparecia. Sumira, pois estava “devendo”.
Procurava não lembrar das idas às delegacias e visitas ao presídio. E pedia na sua simples fé que ele aparecesse para ceiar e atender ao seu pedido constante:- Que arranjasse um emprego e tomasse juízo..
Cansada, quase dormindo percebeu quando ele chegou. De leve e macio. Estava de branco, a beijou carinhoso e falou:- Mãe, jantei. Tava muito bom. Não “levanta” não... Vou dormir também...Descanse...te amo!
Diferente das outras vezes, beijou-a e abraçou-a carinhosamente.
Ela envolvida e cansada dormiu.
Acordou feliz e ouviu que batiam forte na porta.
Alguém gritava:
-Dona Adélia! Dona Adélia! “O tia”! Seu menino tá lá "na vala"! Passaram o “cerol" nele!
Ela olhou para mesa intocada e nem chorou.
Ele e ela iam, cada um ao seu modo, descansar.
Pedro Paulo da Gama Bentes
30/11/2010
Um conto curto:Em casa vendo na TV a invasão pela polícia de uma favela.
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