A Curva

O tempo passa incólume por meus dedos , como uma brisa leve de verão, ou um sopro frio de inverno,do cigarro que acabei de fumar , somente as cinzas me sobraram , sem valor algum elas evaporam no ar e ao pó retornam da fumaça de meus pensamentos fica em mim a doce lembrança ou a amarga derrota , as correntes que me foram atadas hoje fazem cicatrizes , e o aço a qual foram forjadas, em minha pele tomam espaço e nela fazem morada . Seu comprimento é curto , não deixam espaço , o coração esmagado no peito , com uma mordaça pede socorro ! , mas o pano é do mais puro sofrer , tecido em reclusão , amarrado para não serem expostas as angustias de um coração.

Das coisas que perdi , dos valores que me tiraram , da liberdade leve que hoje pesa em meus ombros , nada dói mais que a sensação de estar distante , distante de um mundo eterno onde tudo era pra sempre , e como sempre , o sempre nos engana . Da rua de pedras soltas , da grama verde onde sentávamos , a varanda gelada , hoje não me resta nada , apenas o nada de restar .Os restos uso como apoio , para esse corpo que perambula só na imensidão da vida , e se afoga no mar das lembranças .

Aquela curva ainda lá está , as vezes passo , penso até em ela não concluir , para ver se o tempo me abre uma brecha e ao fechar dos olhos tudo volte ao normal , ou então que a curva da estrada finalize meu percurso e que meus medos sejam resolvidos , minhas angustias solucionadas , minha dor a mornos panos suavizada , as correntes desatadas.Esperar por outro plano , outra vida , para quem sabe um dia , caminhando por uma rua , com outra chance no olhar , meus sentidos sejam mais uma vez ativados , os passos sejam seguidos , e quem sabe , em uma madrugada fria ao lado de um rio,caminhando com os braços cruzados e cabeça baixa venha você , e dessa vez a coragem seja me dada , pois um novo começo me destinado e a um outro plano eu dirija minhas forças.

Fraco , fraqueza e medo fazem o que sou hoje , aquele olhar já não me faz continuar , porque longe está , não é sempre , mas sei que tudo está bem agora , só que esse ano o verão acabou , a brisa não soprou mais , e tenho tanto a escrever , mas me falta a coragem , fraco sou . Recluso em minha alcova , do mundo que hoje são só sonhos , a distancia vos separa , mas pior é a vida jogada fora , que hoje como disse , creio que em alguma curva acalmará , ainda é tudo tão escuro , a noite e o dia , dias de sol , dias de chuva . Fraco , mas palavras por hora ditas , pequenas e curtas e só por hora a curva ainda terá um final.

Dartagnan Boaventura
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