Quarto 15

 

A porta ia se abrindo , e o interior ia se mostrando , a cama , os comodos,o criado mudo ali , sem nenhuma atitude , parado perplexo como tudo imóvel naquele lugar.Apenas no ar a lembrança do que passou , o sorriso estampado na cara , o cansaço acalentado no colchão , as ropas jogadas no chão sem cuidado algum , apenas o sentimento de desejo,carinho e solidão.

Deito naquela cama fria, a que um dia foi repleta e quente, nossos corpos à ocuparam, sem importar-sem com a cicatriz que iria nos causar, apenas a união, o corpo, o suor. Mas hoje surdo e mudo, frio e terrível sofrer, você não está presente, será que virá ? O telefone inútil, posto em cima da comoda parece me atrair, olho sem cansar, ouço !, mas nada se movimenta, nada! nem uma campainha, nem um bater na porta. Apenas o quarto vazio e frio.

Os sapatos que estavam ali unidos, levaram um tempo para se uniren novamente, couro e plástico que parecem se amar, apesar da diferença a cor é quase a mesma, o sentimento é o mesmo, passado e futuro agora não são tão desiguais, um precisa do outro, laços e fitas ? lembra-se ? linda fita de setin , vermelha como sangue , o sangue quente que nos deu força para amar, o mesmo sangue que ferveu e nos fez brigar,diferença e igualdade, mas que no final dará certo pois optamos por ousar.

Malas prontas, um cigarro mentolado no canto da boca e no peito a dor da saudade,o criado mudo quase chora ao me ver partir, a cama bagunçada acompanha minha dor, a luz que deixo acesa propositalmente ilumina meus passos, hoje é dia 08, dia de lembranças, hora de partir.Ao fim a maçaneta fria me coloca para fora da nostalgia, o quarto chora a partida,o barulho da porta se fechando, o quarto desaparecendo de minha vista, na madeira antigada porta um prego segura dois numeros a me marcar. Quarto 15 até a vista, se eu voltar!.

Dartagnan Boaventura
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