[SONETOS] Ser Poeta

 I
Veja, escute, sinta o que o universo
Conspira para ti desde o principio.
Poeta, faça dele o supremo verso.
Compreenda a vida desde o fim ao início.
 
Entregue-se ao perfume das rosas
E ao desespero, a falta de esperança.
Pense no rebolar da mais fogosa
E no olhar inocente de uma criança.
 
Tente contar do céu todas as cores,
Observe a linha onde ele encontra o mar.
Reflita sobre a morte, pior das dores,
 
Sobre o que já tivesse de passar.
Sinta ódio, lembre-se de seus amores
E poeta você vai então se lembrar.
 
 
II
Ouça o noturno suspirar da rua.
Pense na melancolia e na beleza
Que só quem tem é a solitária lua.
Em tudo o que já te encheu de tristeza.
 
Poeta, escreva aquilo que você não
Disse a ninguém. O que você não diria
A pessoa por quem morres de paixão.
Sobre tudo o que te enche de alegria.
 
Pr’aquele rosto faça dois quartetos
Para o qual você vai sempre lembrar.
Pr’aquela boca faça dois tercetos
 
Para a boca que você quer beijar.
Para a pessoa amada escreva um soneto
E poeta você vai então se tornar.

Adolfo J. de Lima
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