A Jabuticabeira Mágica

 
O inverno nos traz uma versão,
Inversa, ao do frio que sentimos,
A aflição, florida, cabalísticas,
Floras sem vida, alvura, avidez, tortura
Meus olhos, me reconfortando
A aura dos que a maltratam, incrédulos,
Figurantes da vida deixam-na quieta e dormente,
Assim meus olhos dormem numa tristeza,
Abraçando-as, eu compreendo, sim,
Tranquilíssimo revelo-me, olhos nos olhos,
Piscam para mim, ainda mais tranquilo, fico.
 
A primavera e suas perfumadas flores
Entram vagarosas pelas minhas entranhas
Conforta-me, seduz-me, brilha-me,
Surpreenda-me, oxigenando meus pensamentos,
Tonteando-os, embriagando-os,
Uma súbita mensagem da relva,
Entendi a doce semente, semeado,
Semeou-me sua piscada rítmica,
Brotou. O orvalho, meus olhos,
Intermitentes, que coração. Reuniões,
Reunidas e reuniram, resolveram dar-me
Seus ares, sublimes, meus olhos, cerrados
Não pelo sol que brilhava reluzente,
Mas sim pelos olhares carinhosos,
Frágeis, ternos, deliciosos,
Da tartaruga mãe e sua filha,
De um clandestino, de um imigrante,
De um forasteiro, veio saudar-me
E presenciar o momento,
Chamou-me e a ideia veio-me
Subitamente apareceu, equivoco-me
Quando digo subitamente, pois foram, elas,
Que semearam em mim, pelas lágrimas,
Flagro-me, admiro-as mais e mais,
Antes não pouco, porém efêmera,
Ainda sim fortes, como explica-las, sei agora,
Todavia com lágrimas,
Minha alma se foi, meu corpo não.
 
Os amigos chegaram, o chão esta posto,
A relva límpida abraçar-nos-á, digo,
Sorrisos, abraços leves, alvas entregues,
Meus olhos carinhoso para seus olhos, encontro-me
E neles te encontras os seus.
A sombra e seu perfume elevam-nos
A uma refeição fértil,
Semeando neles o que cada um
Floresce por natureza,
Mas nela em especial, meus amigos,
Queridos, íntimos, velhos da primavera,
Plantam, por força do que tem que ser,
Mesmo quando não são (e certamente
brotara, porque neles cofio minha vida),
A cegueira, onde tudo vê,
Porém nada resistirá ao fluxo dos olhares,
Que embaixo de seus floridos braços,
Exalando um perfume, brotos encantadores,
Tornarão a serem outros, frutos, muitos frutos,
Mas agora flores ainda,
Inibem nossos olhares, eles, alheios aos nossos,
Outros, por um instante, somem, por encanto,
E nossos olhos finalmente conseguem, vão, querem
Entrelaçar-se, pois sim, como resistiremos digo:
Sem demora!
Diz-me: com demora!
Como por respeito à relva,
Num piscar de ternura, ponho mais ternura ainda,
Para meus amigos que Deus os criou, pois a mim,
Também como eles, celebro o amor que por ela sinto,
Há tempos, por força maior, cerraram-me,
E por encanto da Jabuticabeira mágica,
Respiro bem fundo, diafragmática, abraço-a, beijo-a os lábios,
Eles falam por si só.