Cuidado, Poetas!
Tomai cuidado, poetas,
Que andam para aí
Umas hienas a ulular
Famintas de carniça,
Dos despojos d’ almas
E das desventuras alheias.
Atentai, incautos poetas,
São serpentes rastejantes
Que injectam venenos e pus
Putrefactos de mal-amadas
Que se juntam em ninhada
Vomitando ascos enredos.
Vigiai, poetas ingénuos,
As vossas paixões pueris
Para que nunca caiam
Em pântanos lamacentos
Pejados de predadoras
Devoradoras de emoções.
Defendei-vos, poetas,
Das setas e dos dardos
Que lançam, malditas,
As traições e os enredos,
Dos mais vis escabros
Jamais passíveis de sonho.
Atacai, poetas de fogo,
Os mitos das suposições
De ditas poetisas de fel
Na sua impossibilidade
D’ amar. Vociferam, apenas,
Excertos da sua imundície.
Ensurdecei-vos, poetas,
Aos cantos das sereias
Carnais. São só matéria
Degradada pelos ciúmes,
Cujas almas perdidas há muito
Lhes foram arrebatadas por dó!
Acordai, queridos poetas,
Na noite do vosso encanto.
Acordai! Podeis sonhar
As vossas musas eternas,
Mas jamais lhes ofertem
A vossa poesia de mortais.
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