Ele era um homem que carregava
Embaixo do braço o jornal do dia
Fumava e bebia, falava e repetia,
Reclamava e discutia.
Ele era um homem que lia, que via,
Que fingia que sabia ou fingia não saber.
Ele sonhava, acordava, não lembrava.
Ele sonhou com os olhos abertos
E fez questão de esquecer.
Ele tinha sua casa, “seus” amigos,
“Sua” esposa e “seus” filhos,
Seu mundo pequeno
De posses imaginárias e seus recibos.
Ele era um senhor cujo
Bolso estava recheado,
Seus olhos vidrados,
Suas mãos enrugadas tateando
O rosto modificado pelo tempo.
Não tinha nenhuma crítica,
Nenhum objetivo de vida,
Pensando no que restou do sucesso profissional.
Todas as vezes que idealizou, que criticou,
Que se revoltou e fechou os olhos,
Todas as vezes que a sede gananciosa
Era maior que a fome de mudanças
E a voz da comodidade era mais alta
Que a voz de sua consciência.
O legado de sua desgraça,
De uma vida de apoio à massa,
Que sem pensar, segue ritmada,
Às vozes do consumo exagerado,
Às vozes da realização material.
Seu tempo convertido em dinheiro,
Sua vida não valera nada.

Bianca Goulart
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