O Tempo
 
Os livros que eu nunca li
As histórias que roubaram de mim
Eu sempre penso antes
E não faço nada depois
 
E tudo que se foi
E tudo que não foi
Sempre fomos amantes
Eu nada disse antes
E não disse nada depois
 
Com idéias fenomenais
Eu pulei os canais
Eu não tive infância
Nem fui adulta
Mas não foi minha culpa
Eu sempre tive esperança
 
Utopia para o futuro
Nostalgia para o passado
E o meu presente?
Permanece estagnado!
 
Como seguir em frente?
Como voltar atrás
Eu já andei demais
Perdida entre esta gente
 
Num esquife de cristal
Lágrimas rolam por mim
Eu sei que não é por mal
Os vivos podem se exibir
 
Os vivos podem se exibir
Os mortos tendem a calar
Se eu estou aqui
E não posso falar
 
Os que riram de mim
Os que sentiram inveja
Sofrem tanto assim?
Do lado de uma vela
 
Os que me amavam em segredo
Os que falavam, mas não amavam
Agora choram de medo
Por estarem tão amarrados
 
Vou para o mundo dos fantasmas
Finalmente irei enfrentá-los
Com odor de miasmas
E os membros já separados
 
Eu não tive alma
Não tenho alma
Nunca terei alma
 
E ainda me lembro
Não gostava de vento
E nunca aceitei o tempo...

JOANA ALARCON
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