Vida de mil esquinas,
a principío, canso.
Gasto além da conta.
Nada sei sobre o céu de estrelas
e apenas conto as velas na noite de natal,
raras luzes em velhos castiçais.

Saio em desparada pelas ruas
alardeando notas de contentamento,
na verdade, tento estar bem,
trafegando além do tormento.
O estado ofegante denuncia,
sorrateiramente prenuncia o encontro.

Fogo brando sob os pés
extasiando os sentidos,
rodopiando a libido,
rente ao corpo, à queima-roupa.
etérea bruma pairou,
interveio em nossas intenções,
reduzindo os escapes,
apressando a conjunção das almas.

Estopim!

Fogo intenso no olhar
escarnecendo a decência,
lógica, vã filosofia,
infelizes freios éticos.
Xeque-mate!

Fica então esse gosto
e sabor de infinitude guardada,
roçando a língua,
na relva do peito cravada,
antes tivesse defesas, porém,
não as tenho mais,
do sopro descrente
o riso crescente se fez.

Vento forte e tresloucado
escancarou-me o querer.
nômade, cigano, sigo a ti,
todo instante, toda vida
universo de honroso ébano,
rompe, apaga em mim os medos,
as chagas do caminho atroz.

Caçador gentil
a correr pelos prados meus,
rastreando me as pegadas
vazadas na aspereza do solo
acerca-te de sua presa,
leva contigo para onde for
homem de bem, enviado dos céus,
o amanhã, hoje nos pertence.

São Paulo