Posso dizer-lhes
das escolhas que não fiz,
da vida quase perdida num triz
e do ocaso de grandes amores.
Posso ainda dizer-lhes de dores,
de eleições, distúrbios, febres terçãs,
de encontros atemporais
e almas irmãs.
Na verdade eu poderia...
Para isso eu deveria
ter simplesmente decidido
entre ser um louco varrido
ou um possuidor de um coração bandido...
E na verdade o que eu fui?
Fui o cara que não teve escolhas,
e que mormente imaginou poder amá-la,
fui escolhendo cegar-me saramaguianamente,
sem aceitar que vida
nunca é um romance.
Escolhi fingir que fosse possível
que tu seguisses comigo num mesmo nível,
e que clandestinamente
viajássemos juntos...
Escolhi crer que seguraríamos a barra
enquanto a barra repousasse
em seu sono entorpecido,
e o que ganhamos
foi um amor engessado -porém lindo-
que hoje definitivamente
repousa
-manso-
dentro desse furacão
que escolheríamos
viver.
Eu te confesso:
Não escolhi você...
Talvez por isso eu devesse morrer
e marcar outro encontro contigo
numa provável
nova vida,
ou quem sabe,
aceitar que tenha sido despedida
o último beijo
dado entre sorrisos.
Eu te confesso:
Não te esqueço.
Mas eu preciso...
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